Residencial
As tradicionais quintas madeirenses são um dos elementos distintivos da arquitetura da Madeira e do Funchal. Algumas já se perderam, acentuando a importância das que permaneceram no tempo, que têm de ser preservadas e reabilitadas para salvaguarda do nosso património histórico cultural comum. A centenária quinta Glicínia faz parte deste pequeno grupo de quintas históricas e encontra-se em pleno Funchal, em Santa Luzia.
Os proprietários tiveram bem presente a importância da arquitetura original e as necessidades de reabilitação de uma casa que se encontrava degradada. O desafio era de reabilitar integralmente a moradia original, mantendo todas as características da casa, numa intervenção de sensibilidade e respeito pelo património edificado. Na verdade, a única proposta possível, face ao valor histórico da quinta, mas também uma vontade comum entre os donos da casa e este vosso arquiteto.
Apesar de alguma adaptação à vida contemporânea, onde foi necessária uma nova localização para a cozinha mais consentânea com a vida atual, toda a arquitetura da casa se manteve. Não apenas no edifício, mas em todos os seus elementos construtivos. Assim, temos todos os tetos recuperados na sua forma original, todas as suas janelas e persianas madeirenses, em madeira, recuperados na sua estética e dimensões originais. Da mesma forma todos os pavimentos de madeira de casquinha mantiveram-se como de origem, bem como as antigas cantarias, coberturas em telhas e demais elementos.
O programa existente não mudou. Os quartos no piso superior mantem a sua disposição. E no piso térreo onde se estabelecia o programa social, manteve-se quase na totalidade. A cozinha foi relocalizada naquilo que havia sido um acrescento que a casa sofreu. Este “acrescento” à casa original percebe-se na sua proporção e volumetria distinta, embora o mesmo já exista há muitos anos. E foi mantido, embora adaptado a uma nova cozinha e espaço de estar.
“Arquitetura é a vontade de uma época traduzida em espaço”.
- Mies van der Rohe
A intervenção em edifícios antigos tem de ter presente não apenas a sua importância histórica, mas também a expressão desta vontade que as épocas traduzem. Estas antigas quintas históricas foram se adaptando ao regime a ao estilo de vida das épocas passadas. Hoje, isso tem de estar presente na intervenção. Mas não pode nunca se priorizar em relação ao seu património. E foi isso que sucedeu nesta delicada intervenção, onde não posso deixar de sublinhar a atitude respeitosa e sensível dos seus proprietários, mas também de todos os envolvidos na sua execução em obra.
Hoje, a quinta Glicínia recuperou o seu antigo brilho, estando adaptada ao conforto moderno, mas dentro dos parâmetros estéticos e construtivos da antiga quinta. O seu património cultural esta vivo e é hoje um exemplo para o que deve ser a reabilitação na cidade do Funchal e na Madeira. exemplo que tem de ser seguido se queremos manter viva a nossa historia e na qual as antigas quintas madeirenses são fator de identidade inigualável.
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